terça-feira, 13 de outubro de 2009

Convencemos quando estamos convencidos



José H. Prado Flores
A vida de André pode ser dividida em três etapas sucessivas, mas intimamente interdependentes: Pescador, Seguidor de João Batista e Discípulo de Jesus. Sem dúvida existe uma grande diferença entre quando ele foi seguidor de João Batista e quando encontrou Jesus e se fez seu discípulo. Vejamos cada uma destas três etapas.
A.                 Pescador do Mar de Tiberíades
André, mais conhecido por ser irmão de Simão Pedro, foi primeiramente pescador do lago da Galiléia, onde foi definido seu caráter e sua personalidade. André e Simão, filhos de Jonas, haviam nascido em Betsaida, mas trabalhavam em Cafarnaum. Eram dois irmãos inseparáveis que dividiam o barco, o trabalho, e possivelmente até a casa.
B.                 Discípulo de João Batista
Na margem ocidental do rio Jordão acendeu um luzeiro que logo se transformou no astro mais brilhante do firmamento religioso de Israel. Seu nome era João e ele era mais conhecido como O Batista, porque proclamava um batismo de conversão. André se alistou nas filas deste pregador do deserto, com o qual se moldou com firme vontade.
O pregador não se vestia como os luxos dos poderosos deste mundo. Sua aparência era austera, a sua comida escassa, e sua mensagem trabalhava os corações. O cenário de sua pregação era pouco acolhedor: o quente deserto. Mas tinha uma língua de fogo, algo curioso em uma época em que o legalismo e o formalismo haviam sufocado as vozes proféticas.
Sua mensagem era muito encorajadora e comprometedora: o tempo está próximo, está vindo o Messias. Prepare-se para sua chegada, que já é iminente!
C.          Discípulo de Jesus
Em seguida, André foi chamado a ser discípulo do mensageiro de boas notícias de Nazaré. Mas quando ele encontrou o Messias, anunciado pelos profetas e esperado pelos séculos, foi buscar seu irmão Simão, para levá-lo a Jesus. Leiamos a passagem da Bíblia em primeira pessoa, como se fosse narrada pelo próprio André:
No dia seguinte, meu mestre João (Batista) se encontrava de novo no mesmo lugar comigo e com o outro discípulo. Enquanto Jesus passava, João, o Batista, fixou nele seus olhos e nos disse: "Eis o Cordeiro de Deus". Nós, quando escutamos isso, seguimos a Jesus.
Jesus, ao ver que o seguíamos, se virou e nos perguntou: "O que vocês querem?" Eu respondi: "Rabi (que quer dizer Mestre), onde você mora?" Jesus nos disse: "Vem e vejam." Fomos, vimos onde morava e permanecemos com ele aquele dia. Era cerca de quatro horas.
Eu, André, encontrei primeiro o meu irmão Simão e lhe disse: "Encontramos o Messias" (que significa Cristo). E eu o apresentei a Jesus. Jesus olhou fixamente para o meu irmão Simão e lhe disse: "Tu és Simão, filho de João, mas será chamado de Cefas" (que significa pedra). Jo 1,35-42.
O relato bíblico conta que quando André encontrou a Jesus, voltou ao seu irmão Simão para contar-lhe e trazê-lo a Jesus. Ele não podia ficar de braços cruzados e queria compartilhar com ele o tesouro há muito ansiava por encontrar. Ele tinha compartilhado com ele a família de sangue, a profissão. Agora não podia perder a oportunidade de compartilhar o tesouro que havia encontrado.
No entanto, isso levanta uma questão interessante: Por que não convidou Simão antes, para que fosse um discípulo do Batista, e se tivesse tentado, por que não conseguiu que seu irmão seguisse o austero pregador no deserto da Judéia? Em ambos os casos a causa é a mesma. Analisemos cada uma destas possibilidades.
- Se não convidou, certamente teve dúvidas, e ainda havia algo a ser feito. Não estava seduzido pelas palavras nem pela vida do Batista. Faltava-lhe estar obcecado por aquele homem que batizava nas margens do rio Jordão. Sem dúvida, João não enchia plenamente o coração, os desejos e as expectativas do pescador da Galiléia. André não tinha a motivação interna para chamar seu irmão para seguir o mestre do norte do Mar Morto. Quem não está convencido não tenta convencer, pois sabe que não pode convencer de algo que ele mesmo não está fascinado.
- Há também outros 50 por cento de probabilidade de que ele tenha procurado Simão para que fosse discípulo de João Batista, mas não teve êxito. A causa é exatamente a mesma. Ele não podia convencer porque os seus argumentos eram insuficientes. Suas palavras tinham um som oco, que não chegava a penetrar no coração de seu irmão Simão. André, discípulo de João, não contava com a força que o impulsionava a persuadir seu irmão, ou talvez não tivesse essa crença sedutora para que seu irmão deixasse as redes e a barca por um motivo superior.
Quem não está convencido não convence. Nossos sermões e homilias inspiram na medida em que nós mesmos estamos convencidos daquilo que pregamos. O cristianismo cresce e se aprofunda na medida em que nós cremos firmemente no que pregamos.
Com Jesus
Quando André encontrou a Jesus, o contrário aconteceu: ele foi para testemunhar a seu irmão. Estava seduzido pelas palavras do pregador de Nazaré e não podia deixar de falar de sua experiência de vida naquele dia às quatro da tarde. E ele convenceu seu irmão a deixar tudo para ser discípulo do Mestre de Nazaré. André estava tão convencido que foi capaz de atrair Simão Pedro para que deixasse as redes e a barca e se alistasse como um pescador de homens. Seu sucesso, ao contrário de quando ele era um discípulo do Batista, foi que agora ele estava convencido de Jesus e de suas palavras. Seu estilo de vida lhe fascinava e tinha convicção para que seu irmão acreditasse nele e fosse capaz de se juntar a ele para seguir Jesus.
Talvez o que convenceu a André foi o diferente enfoque entre João e Jesus: O Batista proclamava: Convertei-vos, porque o Messias está próximo. Em vez disso Jesus anunciou: Porque Messias chegou, agora sim são capazes de se converter!

Se estamos convencidos do que temos visto e ouvido, então basta que encontremos alguém para lhe compartilharmos nosso testemunho da nossa experiência vivida. Se pensamos e começamos uma grande reflexão sobre a oportunidade de testemunhar, se titubeamos e pensamos que não vamos atingir o nosso objetivo, na realidade estamos duvidando da validade da nossa experiência.
Conclusão
André nos questiona com agressividade: quando permanecemos passivos e não conseguimos convencer, o mais certo é que nós mesmos não estamos convencidos nem seduzidos. O evangelho está cheio de casos de pessoas que quando encontraram Jesus não precisaram ir a um curso ou a um retiro para transformarem-se em testemunhas.
Aquele que escutou as palavras de Jesus imediatamente vai buscar o seu irmão o convence a chegar até Jesus.
Assim, pelos frutos de nosso testemunho podemos perceber do quanto estamos convencidos dAquele que anunciamos ou ensinamos.

Uma abençoada semana!