domingo, 21 de abril de 2013

Domingo do Bom Pastor...

                      


O quarto Domingo do Tempo Pascal é chamado também de o “Domingo do Bom Pastor”, posto que nele se lê o Evangelho no qual o Senhor fala dos bons e maus pastores, apresentando-se como o Bom Pastor que veio reunir novamente o rebanho de Deus disperso pelo pecado, mediante o dom de sua própria vida.
O Papa Paulo VI decretou que no quarto Domingo do Tempo Pascal, Domingo do Bom Pastor, fosse celebrada, anualmente, a Jornada Mundial de oração pelas vocações sacerdotais e à vida consagrada. Assim, pois, a Igreja nos convida neste Domingo a elevar todos juntos nossas fervorosas preces ao Dono da colheita (ver Mt 9, 38) por todos aqueles que antes de ter nascido (ver Jer 1, 5) foram marcados e são chamados a ser, em Cristo, bons pastores para Seu povo, seja mediante o sacerdócio ministerial ou também mediante a vida consagrada a Ele.
Possivelmente alguma vez tenhamos ouvido falar de que a Igreja atravessa uma grande “crise de vocações”. São, sem dúvida, poucos os católicos batizados que pensam, hoje em dia, em ser sacerdotes ou consagrar sua vida a Deus. Mas ao dizer que se trata de uma “crise de vocações” estaríamos dizendo, em outras palavras, que a diminuição no número de chamados se deve ao fato de que Deus esteja chama menos pessoas. A palavra vocação, recordemos, provém do latim vocare, que significa chamar. Ao dizer que uma pessoa tem vocação ao sacerdócio ou à vida consagrada queremos dizer que Deus, a partir de seu eterno amor (ver Jer 31,3), escolheu-a e chamou-a, que a “marcou” desde sua concepção, criando-a com uma estrutura interior e adornando-a com dons e talentos necessários para a vida sacerdotal ou consagrada, de modo que esse — e não outro — será também seu próprio caminho de realização, de plenitude humana. O ser humano, homem ou mulher, realiza-se respondendo e seguindo esse chamado que experimenta no mais profundo de seu ser e seguindo o caminho que Deus lhe assinala. Por isso é tão importante que todo jovem se detenha diante de Deus e lhe pergunte seriamente: Para que nasci? Qual é o sentido de minha vida? Qual minha missão no mundo? Qual meu chamado, minha vocação? Para que estou feito? Qual, Senhor, é o caminho que devo seguir? Meu chamado é para o matrimônio? Ou me chamas para o sacerdócio, ou para a vida consagrada? E junto com todos estes questionamentos necessários, deve elevar-se aquela súplica incessante: “Fala, Senhor, que seu servo, que sua serva escuta” (ver 1Sam 3, 10).
Mas a que se deve esta crise da qual estamos falando? Será que Deus chama cada vez menos? Será que Ele já não quer pastores para seu povo? Será que já não se compadece ao ver tantos que hoje andam no mundo inteiro “como ovelhas sem pastor”? Ou será que temos que procurar a resposta em outro lado?
Em meio a uma sociedade materialista, agnóstica (indiferente a Deus), secularista e secularizante (com tendência a aceitar apenas as coisas do mundo, rejeitando a fé e a religião), a maioria dos que experimentam a inquietação e o chamado do Senhor, descartam-no prontamente, por múltiplos raciocínios ou “desculpas”, internas ou externas. O problema não é que Deus tenha deixado de chamar, e sim que os chamados já não respondem, ou respondem cada vez menos. É, pois, um problema de egoísmo por parte dos chamados. Um problema de mesquinharia e falta de generosidade, de falta de fé e confiança no Senhor, de medo e covardia, de pouco conhecimento de si mesmos. Uma opção por viver na superficialidade da existência, por estar muito centrados em si mesmos, em seus gostos, prazeres e próprios planos que excluem a Deus. Uma decisão de não se fazer sensível às necessidades de tantos que andam tão vazios, sem sentido pelo mundo, como ovelhas sem pastor. Abundam mais que nunca os “jovens ricos”, aqueles ou aquelas que escutando em seus corações aquele radical “vem e siga-me” se enchem de medos e preferem aferrar-se a suas “riquezas”, projetos ou seguranças humanas (ver Mc 10, 21-22). São cada vez mais os que se negam a dar o salto porque preferem fixar-se em tudo o que podem perder, em vez de aspirar os “cento por um” e à vida eterna que o Senhor põe em seu horizonte (ver Mt 19, 29). Deus continua chamando, hoje como ontem continua tocando e batendo à porta de muitos corações. Portanto, para ser justos não podemos falar de uma “crise de vocações”, mas sim de uma “crise de resposta à vocação”.
Por outro lado, estão as “modernas” famílias católicas de hoje que já não consideram o chamado de um de seus filhos ao sacerdócio ou à vida consagrada como uma bênção de Deus. Justamente o contrário, muitos pais católicos — às vezes até “de Missa diária” — tomam o chamado de um de seus filhos como uma loucura, um desatino, o fruto de sua imaturidade e, finalmente, como uma maldição de Deus. “Por que te fanatizar tanto — dizem a seu filho ou filha —, se você pode ser um homem ou mulher de bem? Deus não pode te pedir um sacrifício tão grande. Desfruta primeiro a tua vida e conhece o mundo! Primeiro cuide de sua carreira, etc.” Com estes conselhos e raciocínios, aferrando-se aos planos que eles mesmos fizeram para seus filhos — não são eles acaso um dom de Deus? —, convertem-se nos mais férreos opositores de Deus e do chamado que Ele pode estar fazendo a algum de seus filhos. Quantas vocações se perdem pela oposição dos próprios pais!
Pergunte-se: ‘reza-se em minha família, para que o Senhor se digne a chamar a algum de nossos filhos ou filhas para segui-lO de perto, como se fazia nas antigas famílias que realmente punham o Senhor no centro de suas vidas?’ Imagino o pânico que devem experimentar muitas mães católicas hoje em dia tão somente por lhes propor que rezem para que algum de seus filhos tenha vocação ao sacerdócio ou à vida consagrada!
Graças a Deus há também daqueles jovens que vencendo todo temor e lançando-se à grande aventura dizem ao Senhor “aqui me tem, farei o que você me pedir”, perseverando nesse seguimento dia a dia apesar das múltiplas provações, obstáculos, tentações e dificuldades que se lhes apresentam no caminho. Há também pais generosos que respeitando a liberdade de seus filhos os alentam a escutar a voz do Senhor e a segui-lO com generosidade. Também eles sem dúvida receberão do Senhor “o cento por um”, pela imensa generosidade e sacrifício que possa significar para alguns entregar um filho ao Senhor.
Rezemos neste Domingo especialmente pelas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Rezemos intensamente por todos aqueles que deste modo são abençoados Por Deus, para que saibam ser sensíveis a sua voz e saibam responder com decisão, com coragem e generosidade a esse chamado. Rezemos também pela fidelidade de todos aqueles que já responderam ao chamado do Senhor, para que permaneçam sempre fiéis ao seu chamado em meio às múltiplas provas e situações adversas que se lhes possam apresentar. Rezemos por todos eles neste Domingo, mas também a cada dia, especialmente em família. Esta oração é um dever de todo católico coerente e de toda família cristã.