quinta-feira, 18 de março de 2010

CATEQUESE NAS RUAS - Iniciativa de Pe. Fernando





 
Quando saímos às ruas, estamos acostumados a encontrar nas calçadas, camelôs, ambulantes, pedestres e toda sorte de panfletagens: de propagandas comerciais a divulgação de várias igrejas evangélicas que prometem a solução para todos os problemas. Mas nos últimos finais de semana, uma cena chamou a atenção em nosso bairro: Tendas com jovens convidando as famílias a colocarem seus filhos na catequese e inclusive catequese para adultos. Catequese? Isso mesmo. Uma iniciativa do Pe Fernando, pároco da Igreja jesus Divino Mestre. E ele responde aqui no BLOG o porque dessa iniciativa.





Blog.
Pe. Fernando o que motivou essa iniciativa de levar para as ruas as inscrições para a catequese, inclusive para adultos?
Pe. Fernando.

A Igreja tem nos convidado a perceber a missão com um estado permanente de ação, ou seja, somos sempre chamados a agir na nossa realidade percebendo os modos para alcançar as pessoas. Além disso, se queremos que pessoas sejam catequizadas temos que procurá-las principalmente fora da Igreja

 
Blog.
O saudoso Papa João Paulo II, tinha feito um clamor à igreja, de trazermos pra dentro das paróquias o ardor missionário. Essa iniciativa tem mais para esse pedido ou faz parte da estratégia da nova evangelização da arquidiocese, ou os dois estão ligados?

Pe. Fernando.

O momento atual da proposta evangelizadora da Arquidiocese é inspirado no Documento de Aparecida. Neste documento temos a riqueza deixada pelo grande missionário João Paulo II, mas também novas reflexões para o contexto da América latina. Enfim, a Igreja sempre retoma ensinamentos deixando-se questionar pela realidade. Do encontro da proposta do Evangelho e do contexto  que vivemos é possível elaborar um plano missionário fiel ao Senhor e ao mesmo tempo que alcance o homem de hoje em meio aos seus desafios.

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Blog.
O que o senhor acha dessa afirmação? - A igreja católica está nas ruas porque está perdendo fiéis para outras denominações.

Pe. Fernando.

Essa questão de perda de fiéis é discutível. Primeiramente porque o censo sobre a religião das pessoas não é realmente claro. Muitos se dizem católicos, porém, a maioria não tem nenhum vínculo com a Igreja a não ser algum sacramento ou alguma simpatia por ela. Dessa forma, quando assumem outra religião dizem que anteriormente eram católicos. Eram mesmo? Se olharmos para nossa comunidade, é muito pequeno o número de católicos praticantes, que se tornam membros de outra Igreja. Talvez, seja o mesmo número de membros de outras igrejas, que se tornaram católicos.
Outro dado sobre a ação da Igreja nas ruas está no fato de cada vez mais os leigos estarem compreendendo, que sua presença na Igreja não pode ser passiva, uma presença meramente de preceito, mas sim uma presença ativa que descobre maneiras de comunicar a riqueza do evangelho ao mundo.
Inúmeros movimentos e pastorais tem compreendido o protagonismo do leigo na missão da Igreja. Essa ação missionária dos leigos ajuda-nos a descobrir uma Igreja que não se centra na pessoa do Padre, uma igreja extremamente clerical, mas sim uma comunidade que reconhece o ministério sacerdotal como fundamental e ao mesmo tempo insubstituível para a vida da comunidade, porém, essa presença vital e irrenunciável não é capaz de abarcar toda a ação missionária da Igreja. Enfim, fala-se muito da redescoberta da ministerialidade da Igreja. Falar isso significa reconhecer o papel de cada ministério na edificação da comunidade, sua singularidade e ao mesmo tempo sua complementaridade com os outros.
Por conta disso acho superficial concluir que a presença mais atuante da Igreja nas ruas seja por conta dessa “perda” de fiéis. Será  que essa presença maior da Igreja nas ruas, não seria uma compreensão maior do mandato missionário do Senhor em nosso tempo? 

Blog.
Que outras ações o senhor acha que a Igreja deve fazer para estar mais presentes nas ruas?

Pe. Fernando.

O documento de Aparecida, que consiste em um texto elaborado a partir de um grande encontro de bispos, padres, religiosos, leigos e agentes de pastoral nos fala da necessidade de compreender a Igreja em permanente estado de Missão, de manter a identidade cristã diante dos desafios e de perceber a ação pastoral, ou seja, a ação evangelizadora, de maneira mais descentralizada do espaço físico do templo, realizando assim meios para alcançar a realidade com sua presença.
A nível prático, devemos levar em consideração a área paroquial da nossa comunidade. Área paroquial consiste nas ruas que pertencem a nossa paróquia, ou seja, que temos a responsabilidade de desenvolver ações evangelizadoras.
Quando olhamos essa missão percebemos uma enorme limitação. Chegamos a conclusão que só estamos muito pouco fora da Igreja; profundamente marcados por uma mentalidade centralizadora. A necessidade de descentralização passa exatamente por essa idéia: compor de maneira mais completa a nossa ação na área paroquial. Dessa maneira, devem ser criados setores, a chamada setorização, onde a presença da Igreja se faz de diferentes maneiras. Essas linhas de ação nos diferentes setores dependerá necessariamente do local, do contexto e das necessidades do local.
Enfim, é um grande desafio que só poderá ser vencido com a participação dos leigos. Sem os leigos esse tipo de ação torna-se impossível de ser realizada.

Blog.
E qual tem sido o resultado desse 1º trabalho nas ruas?

Pe. Fernando.

Essa primeira experiência serviu para concluirmos algumas coisas: Que não precisamos ter medo de ir ao encontro do povo, mesmo que alguns não recebam bem, a maior parte se sente atraída.
Mostrou também a capacidade que todo leigo tem de levar a Palavra de Deus pela acolhida, por um convite e por uma presença; Essa é uma barreira que precisa sempre ser vencida pelos leigos: de se acharem incapazes.
Revelou também que existem pessoas a nossa espera para serem evangelizadas, mas que devemos saber onde buscá-las.  Essa busca de pessoas que estão fora da Igreja, dando aviso dentro da Igreja é algo realmente incompreensível... Como ouvirão dentro da Igreja esse aviso se lá elas estão fora?
Vale ressaltar também a alegria das pessoas que se dispuseram a servir nesse trabalho, e como perceberam que sua doação produziu frutos. O número de inscrições cresceu consideravelmente. Para ilustrar, basta dizer que em três horas de ação na rua conseguimos o dobro de inscrições feitas na Igreja em  dois meses. Os resultados falam por si. Mas essa experiência ,como sendo a primeira ,
certamente passará por amadurecimento, crescimento para sempre desenvolver-se de maneira mais adequada.
Por fim, devemos considerar também que é uma pequena parte de um projeto missionário paroquial, que repito: só é possível com a participação dos leigos, daí a importância de incentivar, formar e acompanhar esse trabalho.


Blog.
A que o senhor atribui esse resultado? A falta da igreja estar  mais próxima da população, ou é a sede de Deus que todos nós temos?

Pe. Fernando.
Acredito que vivemos em um tempo no qual religiosidade está em alta. Muitas propostas religiosas são colocadas a nossa frente o tempo todo. Por vezes, nossa ação se coloca de maneira muito tímida, parada , em um ritmo que se propõe a aguardar as pessoas virem ate nós como se ainda vivêssemos há 50 anos atrás.
Não vivemos mais em um mundo, no qual as pessoas assumem a religião como herança.  Esses resultados positivos certamente estão ligados a esses dois fatores, que na verdade se complementam: Se alcançarmos a sede de Deus, que o ser humano possui com a água viva do Evangelho de Cristo , a meta foi alcançada. Mas como alcançar essa sede se não formos ao encontro dela? A proximidade desperta uma possibilidade muito maior para aceitar o convite.
Quando olhamos a pessoa de Jesus percebemos que ele não mandava as pessoas o encontrarem em algum lugar, pelo contrário, ele as encontrava  no lugar onde elas estavam. 


Blog.
Agora uma pergunta que não pode faltar: O que o senhor acha da Internet como meio de divulgação e evangelização?

Pe. Fernando.

Com a internet nossa maneira de comunicar, de conviver, de transformar o mundo e ser transformado por ele assumiu um nível que seria impossível de ser pensado a 20 anos atrás. 
Quando se compreende a evangelização como meio de comunicação da vida divina ao homem, da convivência com Cristo, da transformação do mundo pelo anúncio do Reino de Deus e da mudança interior torna-se completamente impossível excluir a internet como meio para alcançar esses objetivos.
Não existe hoje um canal mais rápido, de alcance mundial e de acesso fácil como a internet. Usar esse meio para anunciar a Boa nova no mundo atual é sinal de sabedoria e empenho na missão.

Fotos Lucio