sexta-feira, 21 de agosto de 2009

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?


Fabrizio Catenassi

O Oscar deste ano foi conquistado pelo filme Quem quer ser um milionário? que, a despeito de seu conteúdo, reflete, em seu título, uma grande marca de nossa sociedade: o desejo de ganhar, sempre mais. Não somos construídos para perder, seja em um simples jogo de truco ou em uma licitação pública. Não somos premiados pelos últimos lugares. O fato é que perder é sempre desconfortável.

O leitor desavisado poderia dizer que esta idéia é defendida pela Bíblia, pois Paulo diz que “somos mais que vencedores”. Mas, para nós, cristãos, há uma diferença fundamental. Paulo, na verdade, diz: “somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou” (Rm 8, 37).

O apóstolo dos gentios havia sido ensinado pelo próprio Mestre que a verdadeira vitória só pode ser conquistada nEle e a partir de um método muito diferente. Jesus apresenta a lógica ilógica mais desconcertante: os últimos serão os primeiros; as prostitutas vos precederão no Reino dos céus; se alguém lhe dá um tapa, ofereça a outra face; não vim para os justos, mas para os pecadores. Este paradoxo é aplicado também para aqueles que desejam a vitória.

Assim, mesmo tendo motivos para gloriar-se (seus estudos, sua arte de discursar, sua condição social e religiosa), o vitorioso Paulo, reconhecido pelos romanos como imbatível perseguidor de cristãos, após encontrar-se com Cristo, sente-se impelido a dizer que suas “vitórias” todas julga “como perda (...) em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Cristo, meu Senhor” (Fl 3, 8). Neste momento, começa a exprimir a postura do que é “mais que vencedor”.

Paulo havia aprendido a fórmula fundamental da vitória em Cristo: perder para ganhar. A partir de seu bem maior, conseguia compreender, como o jovem rico, que o Reino de Deus era conquistado quando vendesse seus bens e desse aos pobres e não quando se gloriasse por acumular riquezas.

Paulo já não se alicerçava em sua santidade ou pureza. Reconhecia que era pecador, como todos os outros (Rm 3, 23) e que os méritos eram todos (sem exceção) de seu Senhor.

Portanto, nesta semana, façamos o exercício de dar a Deus o que é dele. Este é o verdadeiro louvor, o reconhecimento de que Deus é Deus. De que nossos dons são dele e, portanto, os méritos também. Se queremos ganhar – a vida eterna –, é preciso perder o que nos faz crer que a obra é um pouco mais nossa que de Deus. E... se queremos ser um milionário, a fórmula é simples. Sejamos pobres. Sim, pobres, porque “deles é o Reino dos céus” (Mt 5, 3).

Que Deus nos abençoe!